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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Botas para Cume

Hoje vou-vos falar das botas que irei levar para o ataque ao cume.
Tendo em conta as condições atmosféricas que iremos encontrar nesta Montanha de + 6000m, importa escolher uma bota que:
  • suporte temperaturas de -20/-25ºC, de sola rígida,
  • cramponável  de forma automática,
  • impermeável, com bom apoio durante a marcha
  • e capaz de suportar uma pisadela de bota com crampons.
Face a estas exigências, optei  por uma botas do fabricante suiço Raichle/Mammut, modelo 90-Degree EXP GTX.

Estas botas de sola rígida, totalmente compatíveis com o uso de crampons, foram desenhadas para utilização em alta montanha, com  membrana de Gore-Tex, utilizando um superfície de Schoeller keprotec Kevlar capaz de resistir a uma pisadela de bota com crampons ou mesmo uma inadvertida bicada de um piolet. Naquelas altitudes, com o organismo aclimatado, o tempo de coagulação aumenta drasticamente e no caso de nos ferirmos será extremamente dificil estancar uma hemorragia.

Pese embora o seu aspecto robusto, as botas são extremamente confortáveis e após alguns kms (10/15) é como se tivessem estado desde sempre nos nossos pés. O conforto da marcha é extremamente importante, por vezes chego a dizer que caminhar é... massajar o pé

A sola utilizada, de inspiração Vibram, rígida, possui também uma óptima aderência em situações de rocha e neve, com a existência de uma zona de escalada (climbing zone) na biqueira da bota, o que é extremamente importante em progressão em terrenos rochosos  de forte inclinação. São botas com indicação para Alta Montanha e escalada em gelo.

Quanto aos atacadores, a bota possui um sistema quick lock na zona superior do pé, o que possibilita que a bota se mantenha sempre bem ajustada, funcionando a parte superior da laçada em termos de laçada normal o que possibilita um aperto menos forte da zona da canela.

Mesmo que os atacadores percam o laço, a parte mais importante e que trava o pé fica assegurada pelo sistema de quick lock (quick lace), o que evita o gesto recorrente de reapertar as botas, com todos os inconvenientes de perda de tempo e de situação de desconforto causada pela posição do corpo - dobrado sobre si mesmo - que impede a entrada de oxigénio suficiente e que faz com que o coração acelere e que se instale a sensação tão incómoda de falta de ar e de enorme cansaço.

Na progressão em Alta Montanha é necessário estarmos sempre muito bem equilibrados. Sentirmos que as variáveis que importa controlarmos estão sempre dentro de parâmetros confortáveis.

Estas variáveis com um locus de controlo interno devem estar sempre debaixo de olho. E basta um ou outro pequeno erro, ou falha, para que tudo descompense em catadupa. Por isso, importa evitar todas as situações que possam de algum modo fazer-nos entrar em processo de descompensação.

Em Alta Montanha temos que estar sempre à procura do equilibrio, à procura do nosso equílibrio interno, para podermos entrar em sintonia com a Montanha e com o grupo com que subimos para, desde modo, podermos ser uma mais-valia para nós e para os outros.

Nas Altas Montanhas subimos como Velhos, com a sabedoria que sabemos só chegar com a idade e com o saber pragmático, e descemos como Jovens.  E é aí que temos de ter cuidado para não nos confundirmos com um qualquer Super-Homem e desatar a correr pela montanha abaixo. Normalmente os acidentes dão-se na descida e tantas vezes se dão com o avistar do acampamento avançado ou com o refúgio.


"Mountains are not Stadiums where I satisfy my ambition to achieve, they are the cathedrals where I practice my religion" Anatoli Boukreev





E para botas de ataque ao cume e outras reflexões por hoje já chega.
Voltarei amanhã, com mais dicas sobre os equipamentos que vou levar nesta expedição.

Abraço-vos com um sorriso em fundo.

Jorge

1 comentário:

  1. Boa descrição de um bom par de botas! até dá vontade de comprar umas já para ir treinando, mesmo se caminhando apenas cá por baixo, como eu.

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